Há um RAW NATURAL?
Há uma série de questões envolvidas no uso do RAW, várias delas derivadas de uma transposição de raciocínios feitos a partir da imagem final, isto é, do fim para o começo. Explico melhor, raciocínios baseados naquilo que o usuário vê quando abre uma imagem no conversor de RAW de sua preferência. Abre e a vê algo como sendo o RAW, quando é uma imagem, e não o RAW. Contudo, pelo fato de todo o processamento criador desta imagem ser opaco –isto é, não ser visível pelo usuário- esta imagem é tomada pela maioria como sendo a própria verdade do RAW. Não fica evidente para a maioria ser uma imagem em que já aconteceram enormes transformações, e essas seguiram um fluxo um pouco diferente daquela neutralidade imaginada.
Porque o RAW verdadeiro, quando visualizado (há alguns programas que permitem visualizá-lo antes de demosaicado) é “verdão”. Ele se apresenta como um mosaico de pixels coloridos (conforme a Matriz de Bayer), com as cores separadas, verde, azul e vermelho. E qualquer um ao ver um RAW assim mostrado percebe ele ser intensamente verde, resultado da maior quantidade de pixels verdes existentes na matriz e de sua melhor captura de luminância em relação aos outros.
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RAW: cada pixel tem informação de luminância apenas da cor da microlente que havia sobre aquele pixel físico.
Arquivo RGB: cada pixel possui informação de luminância das três cores, suas delas obtidas por empréstimo dos pixels vizinhos de outras cores.
A primeira coisa feita pelos conversores de RAW é realizar o demosaico. Esta é a tarefa número 1 do seu workflow interno. É preciso entender bem isso: ele não aplica WB na conversão equilibrando os canais, não aplica um gama (basicamente uma curva de amplificação de luminosidade diferenciada), nada disso. Ele só converte, isto é, faz, através de processos diversos dos quais os ditos mais eficientes atualmente são o AHD incorporado no DCRAW do Dave Coffin ou suas derivações, a interpolação de cores de cada pixel com os pixels vizinhos, que emprestam as cores que faltam para o RGB.
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Nesta etapa, é feita, por todos os conversores uma coisa chamada de Conversão Linear. Isso significa exatamente a ausência de aplicação de parâmetros de luminosidade e de contraste. O resultado disso, se o pudermos ver, será um arquivo do tipo bitmap, um mapa de posições, cada uma contendo três valores de luminância. Para simplificar, uma espécie de Tiff não comprimido, que é um tipo de bitmap. Sua aparência será, no geral, muito parecida com a do RAW falado acima exceto que já não vemos as cores separadas. Ele terá cores erradas, será predominantemente verde, será muito escuro e sem contraste algum. Será difícil perceber nele o vermelho e o azul.
Basicamente, será um arquivo Tiff, ao qual não temos acesso, em um espaço de cor de enorme amplitude, conforme a literatura informa, no caso do Lightroom semelhante ao ProPhoto RGB, em outros casos o CIE XYZ.
Todos os outros parâmetros que poderemos escolher nos conversores, exposure, contraste, curvas, saturação, White balance, são transformações feitas nesse arquivo intermediário, e não no demosaico. Vou repetir isso, porque é aqui o ponto onde está a maior mitologia sobre o RAW: pensar que o conversor aplica as transformações sobre o RAW diretamente. Não é assim. O demosaico já aconteceu, e com pequenas diferenças de cada algoritmo aplicado que sequer são as diferenças significativas para os usuários no final -embora sejam significativas as derivações a partir desses demosaicos e para o tipo de transformações aplicadas a eles.
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Basicamente, será um arquivo Tiff, ao qual não temos acesso, em um espaço de cor de enorme amplitude, conforme a literatura informa, no caso do Lightroom semelhante ao ProPhoto RGB, em outros casos o CIE XYZ.
Todos os outros parâmetros que poderemos escolher nos conversores, exposure, contraste, curvas, saturação, White balance, são transformações feitas nesse arquivo intermediário, e não no demosaico. Vou repetir isso, porque é aqui o ponto onde está a maior mitologia sobre o RAW: pensar que o conversor aplica as transformações sobre o RAW diretamente. Não é assim. O demosaico já aconteceu, e com pequenas diferenças de cada algoritmo aplicado que sequer são as diferenças significativas para os usuários no final -embora sejam significativas as derivações a partir desses demosaicos e para o tipo de transformações aplicadas a eles.
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Pois bem, nessa etapa temos um Tiff-like predominantemente verde, com canais vermelho e azul com luminância insuficiente em relação ao verde, e todo o arquivo com luminosidade insuficiente, gamma igual a 1. Esse arquivo tem 16 bits de profundidade de cor.
Então os conversores iniciam uma segunda etapa: dar a isso a aparência de uma imagem natural, isso significando aplicarem a essa imagem uma curva de luminosidade (gamma), uma curva de contraste, um balanço de brancos, sharp, etc. Todas essas mudanças são feitas através de amplificação por software dos valores de luminância de cada pixel. Então, embora o RAW permaneça íntegro nos nossos HDs, essas transformações, como quaisquer transformações, são degradadoras da imagem no sentido de criarem fenômenos de tratamento, tanto quanto se a mesma imagem fosse tratada externamente em um programa de edição de imagem capaz de lidar com imagens de 16bits.
A rigor, todos os comandos de todos os conversores são meramente comandos de edição de imagem Tiff. Já não estamos lidando com o RAW, e nunca estivemos lidando com ele de fato (ou melhor, lidamos com ele somente ao escolhermos o algoritmo de conversão).
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Lidamos, isso sim, com um primeiro arquivo RGB, um Tiff interno de características especiais. E nesse arquivo são aplicadas pelo conversor enormes mudanças para torná-lo visualmente realista, e isso não é grátis, pois não são essencialmente diferentes das mesmas mudanças aplicadas em um editor de imagens externo como o PS, ou seja: multiplicação ou desmultiplicação de valores de luminância por software.
Quando se fala do RAW “como ele é”, na verdade estamos falando de um preview que emerge do ACR, do Lightroom ou de outros conversores, isto é, do RAW tranformado em um Tiff interno sobre o qual é aplicado um gamma, um balanço de brancos (multiplicação dos canais R e B por valor próximo a 2), etc, mesmo quando é conversão neutra. Conforme o set da câmera ou do default do conversor, isto seria o RAW “sem tratamento”. Na verdade sem tratamento quer dizer “sem tratamento algum além daqueles promovidos pela programação default do conversor de RAW”. Não por acaso ao abrirmos o mesmo RAW em diversos conversores temos aparências distintas da imagem, visto cada um ter uma conversão default diferente, ou mesmo já desde sempre terem uma conversão adaptativa à imagem (assim são o RawTherapee quanto à recuperação das altas luzes e o PerfectRAW em relação ao balanço de brancos).
Quando tomamos tal coisa como um negativo com ampliação neutra, sem termos bem marcado o fato dele ser somente o resultado de uma setagem de transformação daquele Tiff primordial, podemos ser levados a um pensamento sobre o RAW menos plástico, porque o acreditaremos algo possuidor de uma verdade perceptiva. Temos aqui um fenômeno de convergência entre duas atitudes, a dos fabricantes de câmeras e a dos produtores de software de conversão comerciais, ambos induzindo o usuário pensar que seus produtos oferecem uma imagem natural, “bem equilibrada nas cores”, etc. Isso chega a ser louvado por alguns proprietários de câmeras, defensores de suas marcas, embora seja meramente o resultado de setagens de conversão. E, por outro lado pode induzir à atitude de já se obter na conversão neutra o resultado o mais próximo possível ao resultado final, o qual denota de fato perícia fotográfica, mas não tem relação necessária com o RAW.
Ter o resultado final bem aproximado já na conversão default nem sempre é o ideal. De fato, há estratégias muito boas em sentido exatamente oposto, isto é, o RAW com conversão default ser horrível e antinatural, mas permitir uma elaboração muito grande ainda no conversor ou no tratamento.
Conforme cada transformação seja aplicada pelo workflow interno do conversor, pode mesmo ser mais proveitoso aplicá-las externamente, pois o workflow interno do conversor é imutável, enquanto externamente se pode escolher o fluxo de transformações da imagem.
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É preciso ter em mente ser a imagem digital essencialmente uma imagem aberta, muito diferente de uma imagem de filme negativo colorido que é razoavelmente padronizada na conversão C41 ou de uma imagem de cromo que é como a revelação E6 a faz. A imagem digital em sua essência é uma imagem cuja aparência final depende de transformações nela aplicadas, e tais transformações não são fundamentalistas, isto é, não ocorrem lá na conversão do RAW em um arquivo RGB de forma neutra e necessária, mas posteriormente ao demosaico, e são da mesma natureza das transformações promovidas pelos editores de imagem como o Photoshop, e outros que trabalham com espaço de cor de 16bits. Apenas são aplicadas sobre um arquivo com gamma igual a 1 e sem multiplicação ainda dos canais vermelho e azul que criam o White Balance.
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Fonte: ABC da Fotografia em RAW
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