quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fotografando Silhuetas


A simplificação das formas nos remete a uma estética realmente pura, de extremo bom gosto e leitura direta. Uma silhueta é sempre algo sutil e plástico, mostrando o nu de forma anônima. Trata-se provavelmente do primeiro trabalho envolvendo nu para a maioria dos fotógrafos, exercício este que vem ganhando vulto comercial no segmento de fotografia de gestantes em vários estúdios por todo o país.

Para que a modelo mostre uma silhueta perfeita, a direção atenta do fotógrafo é essencial, porque tudo se funde em uma única massa escura – o corpo da retratada. Um braço passando pela lateral do corpo da modelo nem será visto e se estiver à frente ou atrás do rosto se fundirá com o mesmo, tomando um aspecto estranho ao invés de definir os contornos.

Outro problema bastante comum é relacionado à timidez. Algumas modelos pedem para usar um sutiã ou top para não deixar os seios à mostra, mas o resultado fica invariavelmente horrível, como se fosse um peito de pombo – nada que não possa ser consertado no Photoshop, mas, como defensor da velha escola, prefiro, sempre que possível, não alterar a realidade.

A iluminação é um dos fatores mais importantes para a realização de uma boa sessão de fotos em silhueta; basicamente trabalhamos com o fundo (background) estourado e sem nenhuma luz iluminando o modelo frontalmente. Existem variações de luz de fundo que tornam a silhueta ainda mais interessante, como iluminá-lo somente com uma colméia ou com uma parabólica e gelatinas coloridas, mas isso será abordado em outros artigos.

Para a silhueta apresentada neste artigo, utilizei uma Nikon D-200 com objetiva Tokina 100mm, gerador assimétrico de 1200W Incoflash, duas tochas com parabólicas apontadas para o fundo e dois anteparos pretos posicionados entre as tochas e a modelo. A função dos anteparos é unicamente minimizar a luz refletida no fundo, impedindo que o retorno ilumine a modelo. Propositalmente, afastei ligeiramente o anteparo da esquerda para permitir que entrasse um pouco de luz lateral, ganhando algum volume final e definição, mas ainda assim preservando o anonimato da retratada.

A medição realizada com ISO 100 apontou f.22 (medidos no fundo) e 1/250s de velocidade, isso porque o gerador estava na potência mínima, ou seja, neste caso não é interessante o uso de flashes com alta potência, pois muitas objetivas nem fecham até f.22 ou menos, sem contar que aberturas mínimas causam um fenômeno conhecido como difração, que diminui a nitidez e luminosidade nas bordas da imagem (nos equipamentos digitais esse problema é mais perceptível se comparado ao uso de filme).

Depois do ensaio, um leve ajuste no brilho e contraste são sempre necessários. Os níveis de correção tornam-se uma escolha pessoal, que no meu caso recai para um contraste mais alto, remetendo a imagens mais gráficas, como gravuras artesanais gravadas em pedra ou madeira.
O resultado final agrada a todos: uma nudez nada vulgar, digna das páginas do portfolio e mesmo de ocupar um espaço de destaque na parede do estúdio. A primeira silhueta a gente nunca esquece...

O ANTEPARO PRETO

Um acessório essencial e desconhecido do grande público, o anteparo preto nada mais é do que um banner ou estandarte feito a partir de um tecido preto denso como brim ou feltro, geralmente com 1,40m de largura e pelo menos dois metros de altura, provido de duas bainhas, uma em cada extremo, por onde passam hastes de madeira, uma para pendurar o anteparo em um tripé e a outra para fazer peso, deixando-o sempre esticado. Sua função é limitar a luz de retorno em fotografias de silhuetas ou fundo branco (high key) e também limitar a ação da luz principal em relação ao fundo, quando desejamos escurecê-lo ou tingi-lo com filtros de gelatina colorida. Infelizmente nenhum fabricante nacional se preocupou em produzir comercialmente tal acessório, sendo necessário encomendar sua confecção à costureiras.
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Artigo: Cleber Medeiros

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