sábado, 21 de agosto de 2010

Entregar em CMYK?

Granger Rainbow




“Entregar em CMYK?” é um artigo originalmente publicado na revista Photo Magazine, sobre a prática da conversão RGB/CMYK efetuada por fotógrafos.

Mais uma vez a história se repete; trabalho orçado, combinado, aprovado, já em produção, e alguém da agência liga para o estúdio fotográfico e pergunta, com a maior inocência:

- Dá para entregar em CMYK?
- Não.
- Não dá não senhor.

Converter um arquivo RGB para CMYK é e sempre foi atribuição do fotolito, gráfica, birô, ou seja lá como se chame; há técnicos treinados, especializados nisso. Gente que pensa em CMYK, que trabalha “by the numbers”, que sabe exatamente o que vai acontecer com aquela mistura de 10% de Ciano + 35% de Magenta + 50% de Amarelo + 5% de preto: um tom de pele brasileiro, amorenado.

E você, sabia?

O profissional antigo de gráfica/fotolito, que acabou sendo incorporado aos birôs e agências de propaganda, muitas vezes como produtor gráfico, tem toda a autoridade para saber como, quando e porque fazer a conversão de RGB para CMYK.

Uma conversão perigosa, que utiliza um modo de cor de gamut amplo (qualquer RGB tem um espaço de cores maior que qualquer CMYK), e que vai inevitavelmente perder tons e saturações quando em CMYK. E por isso, esse profissional é bem pago. Ele evita que se perca dinheiro durante o processo, economizando em provas desnecessárias e garantindo a qualidade do impresso.

Algumas vezes as mudanças são imperceptíveis aos nossos olhos, e a conversão parece muito fácil; em outras, que geralmente envolvem vermelhos mais profundos e brilhantes, azuis muito saturados, cores fluorescentes, a perda é visível.

E quando a tinta cai no papel…

Desastre.

Fotógrafos pensam em RGB.

Artistas digitais pensam em RGB.

Nosso sistema visual, biológico, enxerga em RGB.

As cores que vemos em nossos monitores calibrados são em RGB.

Por que motivo um fotógrafo deveria entregar seus arquivos em CMYK?

A responsabilidade do fotógrafo tem que acabar no momento em que entrega o seu arquivo TIFF, em AdobeRGB, para que o birô faça a conversão. Do mesmo modo que fazíamos com os cromos; se a foto estava em foco, as cores perfeitas, e existissem boas opções de enquadramento, então o trabalho estava aprovado, e a responsabilidade do fotógrafo se encerrava por aí mesmo.

E aí está a palavra-chave: Responsabilidade.

Responsabilidade que envolve custo, dinheiro grosso. Caso a impressão não dê certo e o cliente a recusar por uma conversão mal feita, quem assume? A gráfica não vai querer rodar novamente os seus 10 mil impressos de graça. O birô não vai dizer “Foi nossa culpa” e pagar a reimpressão. A agência certamente vai cobrar a qualidade inexistente do produtor gráfico, que por sua vez pacientemente vai explicar que a conversão foi errada, e que portanto a culpa é de quem converteu. Todos acabam se isentando da responsabilidade e do custo, e o mico sobra no ombro do fotógrafo que aceitou entregar em CMYK. E isso não poderia acontecer com a frequência com que vem acontecendo.

O fato é que simplesmente por razões econômicas, muitas empresas de pequeno e médio porte deixaram de contratar os bons profissionais gráficos e os substituíram por estagiários, que por sua vez ficam passando a bola adiante para que o mico não fique com eles. Não sabem a diferença entre um CMYK Euro, um Swop, ou um Fogra39; não estão nem aí para o gerenciamento de cores; nunca ouviram falar de perfis ICC.

Por outro lado, quando um estúdio fotográfico assume a entrega dos arquivos convertidos, está implicitamente assumindo os riscos e custos decorrentes dessa decisão. Entregar várias gerações de provas de contrato (contract proofs) de cada uma das fotos, pois os directores de arte são muuiiito exigentes; ter conhecimento prévio do CMYK da prova, da impressora, e como se relacionam aromaticamente com o que está sendo visualizado em tela; fazer com que todos os dispositivos do estúdio, incluindo as câmeras, estejam sempre calibrados e caracterizados por spectrofotômetros profissionais; ter disponíveis cabines de luz com lâmpadas de D50 e CRI alto, de pelo menos 95%, para que as cores sejam previsíveis; e disposição pessoal para acompanhar o trabalho até o final da impressão, que geralmente acontece de madrugada e nos finais de semana.

A verdade é que pouquíssimos estúdios fotográficos contam com essa estrutura cara e sofisticada, mas necessária, para que o impresso saia perfeito; e isso inclui ao menos um profissional treinado, cuidadoso, técnico, que pode sem medo assumir a responsabilidade pela conversão RGB/CMYK que acabou de fazer.

Se o seu estúdio é assim, parabéns!

Pegue os trabalhos sem medo, cobre caro para justificar todo o investimento efetuado, e entregue sempre em CMYK.

Mas se você ainda não chegou lá, não deixe que aqueles que o contrataram lhe façam de bobo; é o caminho certo para prejuízo constante, que acabará por quebrar o seu negócio.

Um comentário:

  1. Olha Elen, o que eu vou falar pode até discordar do que você escreveu acima.

    Na verdade eu trabalho com design gráfico e muitos dos serviços de fotografia são terceirizados. Temos fornecedores de alto nível que entregam seus trabalhos em CMYK. Exigência da agência. E também acho que é um dever do fotógrafo de saber converter as cores. Mas existem fotógrafos e fotógrafos.

    Hoje o fotógrafo deve saber usar o Photoshop. É obrigação dele saber fazer tratamento de imagem? É obrigação dele saber equalizar cores? É obrigação dele de trabalhar com canais?

    Eu acho que são novas taredas que acabam mudando os padrões da era digital.

    Daí vem o que você disse: responsabilidade.

    Se o fotógrafo sabe o que está fazendo, ele pode cobrar pelo preço justo que faz. Por isso que o nosso fornecedor cobra muito pelas suas fotos e sei que ele merece, o cliente sabe. Quando vemos que existe um "profissional" trabalhando, não existe trabalho retornado.

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